sábado, 11 de dezembro de 2010

Feto forte, Nasaum forte

O feriado do último dia 7 celebrou o Dia dos Heróis. No dia 28 de Novembro de 1975, o Timor obteve sua independência, que acabou durando apenas uma semana. Já no dia 7 de dezembro, a Indonésia invadiu o Timor e daí seguiu-se um período de 24 anos de ocupação. A data homenageia os heróis que deram a vida pela Pátria Timorense. Resolvi então resolvi escolher uma heroína para homenagear. Como já disse, no Timor a gente encontra com os heróis nacionais andando pela rua, muitas das vezes sem sequer ter ideia de quem são essas pessoas ou o que fizeram. Foi assim com a Madre Guilhermina Marçal, uma mulher de personalidade firme, extrema cultura, fluente em vários idiomas. Fomos a uma festa de noivado, no terreno ao lado ouvimos um coral de lindas vozes. Soubemos que se tratava de um internato que a Madre Guilhermina dirige e resolvemos fazer uma visita para conhecer o local. Acabamos encantados com suas estórias. A Madre Guilhermina perdeu a mãe aos 7 anos e o pai aos 14 anos, assassinado após a invasão da Indonésia. Sendo ela a filha mais velha, teve que fugir para o mato com os irmãos mais novos, onde passou a viver sob as árvores, em acampamentos que não duravam mais do que 2 dias. Contou-nos que apenas tinha a roupa do corpo e se alimentava de frutos silvestres e tudo o mais que a natureza podia oferecer (a esta altura lembrei-me daquele trecho "olhai os lírios no campo..." do Sermão da Montanha), sempre com os irmãos menores, escondendo-se das patrulhas da Indonésia. Contou-nos que, numa dessas fugas, caiu de uma árvore e teve que se esconder embaixo de um tanque por um dia inteiro, até que a noite caísse e ela pudesse sair sem ser vista. Durante mais de 3 anos a Madre Guilhermina viveu nestas condições rudimentares. Hoje ela dirige um internato para moças de 18 anos acima que não reúnem condições financeiras para estudar, recebendo todo apoio para uma adequada formação profissional. O internato mantém aproximadamente 80 moças, mas já chegou a abrigar mais de 20 mil deslocados, em tempos de crise. Nestas condições Madre Guilhermina, além de cuidar da alimentação, da saúde e do bem estar de milhares de pessoas, ainda teve que lidar com as rivalidades. Muitos chegavam no "campo de deslocados" com suas catanas, facões, rifles, e a Madre Guilhermina tratava de desarmá-los e guardar as armas no local mais seguro de que dispunha: o seu quarto, debaixo de sua cama. Por todo seu trabalho, a Madre Guilhermina recebeu reconhecimento formal do Presidente da República. Diz o certificado: "Com valor pelo serviço aqui prestado na área de assistência humanitária, como parte importante para o desenvolvimento da nação". A chamada não poderia ter sido mais apropriada: mulher forte, nação forte!


Madre Guilhermina e as moças do Internato

Certificado concedido pelo Presidente da República pelo trabalho de Madre Guilhermina

Um comentário:

  1. A madre Guilhermina, a madre Aquelina e tantas outras religiosas que enfrentaram os indonésios na cara e na coragem mostram como as pessoas daqui são lutadoras. Parabéns pelo post. Homenagem justíssima.

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