terça-feira, 22 de março de 2011

Jaco

Depois da aventura de ficar 12 horas em uma microlete (e depois mais 12 para voltar) quando fomos a Kupang, neste final de semana juntamos os amigos e alugamos uma carro para enfrentar "apenas" 6 horas de viagem nas precárias estradas timorenses rumo a Tutuala.


 
Tutuala é o último subdistrito no extremo leste da ilha de Timor, e é através dele que pegamos um barco para passar o dia em Jaco (o ilhéu é sagrado para os timorenses, e não se pode dormir lá, apenas passar o dia e voltar a Tutuala). 

As praias neste lado do Timor são ainda mais bonitas do que as que conhecemos em Dili, são paradisíacas, basta ver as fotos para comprovar. A estrutura para turismo existe dentro das condições deles. São duas pousadas na praia de Tutuala, ficamos na que é considerada a melhor por ter água doce para banho (na outra a água utilizada é a do mar), os quartos são apenas separados por estruturas de madeira, não há forro nem camas, apenas colchões cobertos por mosquiteiros, mas o chão é revestido com piso e tudo é bem limpo. O banheiro é coletivo e o banho é com canequinha, porém mesmo para mim, que geralmente não gosto de água fria, foi extremamente bom e revigorante. E podem acreditar: todas essas peculiaridades tornam-se irrelevantes perto da imensa beleza que é o lugar.


Uma lulik - casa sagrada timorense




















Enchendo o tanque na estrada

domingo, 13 de março de 2011

Voluntariado em Dili


Diferente do que estou acostumada no Brasil, aqui em Dili, o serviço “intensivo”em neonatologia chama-se Enfermaria de Perinatologia. Nela são atendidos bebês de todos os distritos de Dili que se encontram em situação crítica e que precisam de atendimento especializado.

Com o grande auxílio de duas médicas cubanas (os médicos de Cuba compõem a maioria do corpo clínico do Hospital Nacional Guido Valadares) a unidade acolhe todos os bebês que chegam até ela e proporciona a assistência que é possível, dentro das suas condições.

Logo que chegamos iniciei o trabalho voluntário na enfermaria junto aos bebês, trabalho que adoro fazer, e que desde então tem sido uma grande experiência aqui.

O começo foi chocante, senti uma enorme sensação de pena, revolta e impotência.  Mas aos poucos fui me conformando e enxergando a realidade deles,  entendendo que seus  funcionários fazem o que pode ser feito dentro do que eles sabem, dos conceitos de saúde, de higiene, de organização e de assistência que eles aprenderam (que podem não ser os mesmos que eu aprendi).

A escassez de equipamentos é  grande assim como as limitações para realização de procedimentos mais complexos ou invasivos. Além disso, há a questão da diversidade linguística (as médicas falam espanhol; os funcionários falam em tétum e escrevem seus relatórios em bahasa indonésia mas também compreendem o espanhol e o português; os pacientes geralmente falam tétum ou bahasa indonésia, alguns compreendem português, outros não), diversidade essa que não impede que os tratamentos sejam realizados, mas dificulta a dinamização do serviço e a comunicação/orientação entre médicos, enfermeiros e pacientes. 

Mesmo com todas essas dificuldades a grande maioria dos bebês que lá adentram tem sucesso em seu tratamento. Os prematuros são os que ficam mais tempo, às vezes meses, sempre acompanhados pela mãe ou algum familiar em tempo integral, até que ganhem peso suficiente para voltarem as suas casas.

Até irmos embora de Timor, terei realizado lá cerca de 270 horas de trabalho voluntário. Apesar de todo o serviço, não posso negar que sairei daqui com uma sensação de "missão incompleta" / trabalho não acabado,  por não ter conseguido ajudar a melhorar aquele serviço e mudar determinadas coisas da forma como eu gostaria, mas sem dúvida nenhuma está sendo uma experiência rica e única em minha vida profissional.












Dr. Niola


turma no plantão

Dr. Cecília - minha companheira

 Emerita e seu bebê.
Já estão há cerca de um mês na enfermaria. Agora seu bebê está pesando 1,400gr e em breve poderá ir para casa