sábado, 27 de novembro de 2010

Nossa água de cada dia


Na minha opinião, uma das maiores dificuldades do povo timorense é a precariedade do saneamento básico e abastecimento de água no país.

Já fiquei sabendo que Dili (capital) possui uma estação de tratamento e distribuição de água, porém ela não cobre toda a cidade. Não sei qual é a situação dos outros distritos de Timor, mas com certeza não é melhor do que aqui.

Tentando minimizar o problema, enquanto uma solução adequada não é realizada, vários locais tem o seu próprio reservatório de água.

Mas nem todos são atendidos dessa maneira, e muitos timorenses não têm água em suas casas, ocasionando diversas dificuldades.

Sinto muito por essa situação porque sei que muitas das doenças que acometem essa população poderiam ser evitadas com hábitos adequados de higiene. Mas boa higiene e falta de água são duas coisas que não combinam muito bem.

Perto de nossa casa existe uma praça pública que possui uma torneira. Todos os dias, principalmente no final da tarde, podemos ver lá famílias inteiras com galões nas mãos buscando água para utilizar em suas casas. Também é freqüente ver as pessoas lavando roupa ou mesmo tomando banho lá.
















 
Já cheguei a ver aqui também, uma pessoa recolhendo água da chuva em um grande buraco na rua, e armazenando em pequenas bacias.

No condomínio onde moramos temos água, mas longe de ser aquela água branquinha e limpa que temos no Brasil, nossa água não é livre de contaminações e por vezes é amarelada ou marrom.

Por isso precisamos usar água mineral em diversas atividades: higienizar alimentos, cozinhar e até mesmo escovar os dentes.

Antes de vir para cá fui devidamente advertida pela querida Mara: “Não traga roupas brancas, elas ficarão amarelas”. Não consegui deixar todas e algumas vieram. Ainda não notei o escurecimento nas roupas (talvez porque todas já estejam amareladas e eu não consiga mais comparar rsrsrs) mas já cheguei várias vezes a adiar atividades rotineiras como lavar louça ou tomar banho por conta do aspecto da água (adiar, não cancelar, que fique claro rsrsrs).

 Nossa água em um desses dias

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Massacre de Santa Cruz

Celebrado como um feriado agora em Timor Leste independente, a data é lembrada pelos timorenses como um dos dias mais sangrentos de sua história, e que chamou a atenção internacional para sua luta pela independência.

O fato aconteceu em 12 de Novembro de 1991, quando Timor Leste ainda estava sob dominação indonésia. Havia presença em massa de estudantes na missa em honra do jovem Sebastião Gomes (semanas antes, este mesmo jovem fora assassinado pelas tropas indonésias, durante uma vigília, junto à Igreja Motael). Após a missa rumaram até à sua campa, no cemitério de Santa Cruz, em Díli.

Quando o cortejo chegou ao cemitério, a seção principal da procissão entrou, enquanto muitos continuaram seus protestos antes do muro, agitando bandeiras e cantando slogans pró-independência. Tropas indonésias haviam sido paradas durante esse período, então um novo grupo de 200 soldados indonésios apareceu e começou a atirar. As pessoas tentaram fugir correndo pela entrada principal e para o fundo do cemitério mas foram todas perseguidas pelos soldados.

Dados contam que 271 pessoas morreram, 278 ficaram feridas e 270 desaparecidas.

O massacre foi testemunhado por dois americanos, os jornalistas Amy Goodman e Allan Nairn (que também foram atacados) e gravada em videotape por Max Stahl, que estava filmando secretamente para Yorkshire Television.

O vídeo foi utilizado em um documentário mostrado no Reino Unido em Janeiro de 1992, bem como em inúmeros outros mais recentes de Stahl, combinado com o testemunho de Nairn e Goodman, causando indignação em todo o mundo.

Em resposta ao massacre,  ativistas de vários países se organizaram em solidariedade para com os timorenses. Uma pequena rede de indivíduos e grupos já vinha trabalhando pelos direitos humanos e da autodeterminação de Timor Leste desde o início da ocupação, mas a atividade ganhou uma nova urgência após o massacre de 1991.





Atualmente, a população timorense coloca velas acessas em toda a cidade (na frente das casas, igrejas, cemitério etc) como forma de lembrar esta data tão marcante para eles.













Fotos: Alexandre

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Praia em Dili




Foto tirada por Alexandre, recém-chegado colaborador brasileiro para o sistema judiciário de Timor Leste. Seja bem-vindo!

Mais um dia em Kupang

Foi debaixo de uma chuva fina que embarcamos de volta para Kupang, onde nos separamos do Cirilo e da Alice (que foram mais espertos e seguiram para Bali) e começamos nossa busca por um hotel descente na cidade.

Na verdade até já tínhamos reservado um hotel por indicação da recepcionista do hotel em Maumere (Flores) porém, desta vez tínhamos que ficar 2 noites e resolvemos que não ficaríamos sem antes ver o quarto. Foi bom, porque o hotel indicado era muuuito parecido com o primeiro que ficamos e não gostamos muito. Por sorte tínhamos passado por outro no caminho que pareceu bem melhor e seguimos para lá. Ficamos então no Hotel Cristal, que para Kupang, estava bem além das nossas expectativas: quarto espaçoso, limpo, banheiro não era indonésio, água quente, bom café da manhã, piscina... muito bom.

No dia seguinte contratamos um simpático motorista que nos levou para um passeio pelos "pontos turísticos"de Kupang: uma cachoeira, uma caverna, uma loja de artesanato e o museu.

 Em Kupang: sem chuva mas com o céu nublado


 Cachoeira


Olha por onde passamos...


Detalhe da aranha que apareceu na foto... o lugar era habitado por vários insetos


 Museu foi aberto para nós... não tinha mais ninguém pra visitá-lo

Tais típicos





Instrumento tradicional chamado sasando


domingo, 14 de novembro de 2010

Flores

No dia seguinte, já em Flores, acordamos às 5 da matina para ir ver o Kelimutu.  Saímos todos ainda meio dormindo para uma viagem de 3 horas até a cidade de Moni, onde fica o vulcão. A funcionária do hotel tinha deixado o café da manhã pronto para levarmos e então tínhamos cada um ainda um pão com algum queijo, uma banana e um ovo cozido pra saborear no caminho.

Ao chegarmos pegamos uma bela chuvinha e confesso que cheguei a pensar que toda a viagem tinha sido em vão e que nós não conseguiríamos ver nada (como a decepção que tive no vulcão em Bali) mas felizmente eu estava enganada e logo o tempo abriu para podermos subir ao topo do Kelimutu.

O vulcão é famoso por causa dos 3 lagos coloridos que se formaram em suas crateras.  Na ocasião em que estivemos lá dois lagos estavam verdes e um estava preto, porém eum deles  já teve as cores castanho e vermelho. Acredita-se que as mudanças ocorrem devido às substâncias químicas presente no vulcão que reagem com a água, mudando sua cor dependendo do clima vigente.

Esperando a chuva passar...






























A comunidade local considera que estes lagos um lugar sagrado a ser a morada das almas dos mortos. O nome Kelimutu é derivado de "Keli" que significa "montanha" e "Mutu," que significa" ferver ". O lago do leste é também chamado de "polo ata tiwu" ou o lago de espíritos malignos, enquanto o lago central é conhecida como "tiwu nua muri koo fai" ou o lago para as almas jovens, enquanto que o Lago Oeste é chamado de "mbupu ata tiwu" ou para o lago para as almas das pessoas idosas e sábias.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Kupang ou Dili

Como descobrimos por acaso ainda aqui em Dili que nosso voo de Kupang para Flores havia mudado das 06:00hs para as 15:00hs, tínhamos uma manhã para conhecer a cidade. 

Não fomos muito longe, ficamos apenas nos arredores de nosso hotel, mas foi o suficiente para perceber que a cidade, na minha opinião, é muuuuuito parecida com Dili. As pessoas têm as mesmas características e as construções têm o mesmo estilo (até porque muitas das que estão aqui foram construídas pelos próprios indonésios), porém Kupang é maior, é mais organizada, é mais populosa, tem mais comércio e é melhor desenvolvida. Ah, e tem um KFC...rsrs












Depois do passeio seguimos para o aeroporto, e como não deu pra passar no KFC pra comer, o jeito foi almoçar no único restaurante que achamos por lá. Comemos pratos típicos indonésios: o Nasi Goreng (arroz frito com alguns vegetais e ovo) e o Mie Goreng (macarrão/noodles com vegetais e algum pedacinho de carne). A galera aprovou...



Aliás, tenho que dizer que esses pratos, quando bem feitos, são realmente bons, e são os principais, oferecidos em todos os lugares, inclusive no café da manhã, porque é isso o que eles comem logo cedo. No café, para nós, é um pouco estranho e até difícil de digerir (literalmente rsrs). Alguns hotéis oferecem esse café e mais a opção americana (pães, ovos, geleia.... mais parecida ao que estamos acostumados) mas nem todos são assim. Há quem goste da experiência (nosso amigo Vinicius disse até que iria sugerir para oferecerem esse café aqui em nosso condomínio...rsrs) mas eu geralmente ficava apenas com o ovo mesmo, quando o café era indonésio.


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Rumo a Kupang

Final de semana passado, aproveitando o feriado que caiu na terça-feira, resolvemos encarar uma viagem dita por muitos como programa de índio... A turma relutou em admitir mas no final não teve jeito, para uma vez foi mais do que suficiente, repetir nem pensar, mas valeu a pena.

Acho que já comentei aqui que do aeroporto de Dili só saem aviões para 3 destinos: Bali, Cingapura e Darwin. Por sinal todos caros... 

A maioria dos timorenses quando precisa viajar, vai por via terrestre até a ponta da ilha onde está Timor, passando pela fronteira e chegando a cidade indonésia de Kupang, de onde partem vários voos a preços bem mais baratos do que temos aqui em Dili. E foi pensando em economizar algum dinheiro e ter um final de semana beeem diferente que  entramos numa van com destino a Kupang.



Já sabíamos que seriam 12 horas de viagem, mas não o que vinha pela frente. Pra começar os motoristas aqui são meio insanos e as estradas nada boas, não sei como nossos amigos Rita e Rogério aguentaram viajar nos primeiros lugares (ao lado do motorista), com o motor embaixo esquentando o banco e tendo a sensação de que íamos bater em algo ou em alguém a qualquer momento.

Nossa van


De tempos em tempos o motorista parava para podermos ir ao banheiro. Banheiro indonésio... para quem não conhece (assim como eu antes de vir para cá) o banheiro indonésio é no chão, muito parecido com fossa, mas uma louça no buraco. A única água que existe provém de um pequeno reservatório, então depois de usar o banheiro você enche uma caneca de água e joga lá dentro. Papel não existe, lixeira também não. Pia para lavar as mãos então nem pensar... descobrimos aqui um gel antisséptico e mandamos bala... fazer o quê? rsrsrsrs. Antes de ir ao banheiro a gente sempre pensava: "será que eu preciso mesmo?" se a resposta fosse positiva, não tinha outro jeito a não ser encarar o tal banheiro.

Ao chegar próximo da fronteira temos que mostrar nosso passaporte umas 4 vezes. 2 de um lado, 2 de outro. Mas para mim o pior foi atravessar a fronteira. O motorista (indonésio) parou a van e tinha algumas pessoas paradas no local que logo se aproximaram, parecia que iam entrar na van, o motorista balbuciou alguma coisa que ninguém entendeu, desceu e foi abrindo o porta-malas. Eu confesso que fui seguindo as pessoas, porque não estava entendendo nada... só depois entendi que teríamos que passar a fronteira a pé, com nossas malas nas mãos, e pegar outra van do outro lado. Uma confusão. Depois de mostrar o passaporte e ter nossas malas revistadas, atravessamos para a Indonésia.






 Na fronteira

Mais algum tempo de viagem e paramos em Atambua, para o almoço... o motorista parou em um restaurante típico indonésio: você pega um prato com arroz e escolhe o que quer de acompanhamento. Porém as opções não eram muito boas. As comidas não eram lá muito convidativas, e ainda tínhamos metade do caminho pela frente... encarei apenas um ovo frito (nunca comi tanto ovo na minha vida como comi nesta viagem - era sempre a opção mais segura rsrsrs) e um pedaço de frango. Mas tinha gente mais corajosa: nossos amigos Cirilo e Vinicius encararam um suculento (?) pescoço de frango. Eu deixo para a próxima... rsrsrs. E seguimos viagem.

À noite finalmente chegamos em Kupang. Não tínhamos comprado passagem para a volta, porque, segundo a agência aqui em Timor, só poderíamos fazer isso lá, então assim que chegamos fomos comprar a passagem e imaginem o nosso espanto quando o vendedor disse que não teria transporte na terça-feira (dia que queríamos voltar) porque era feriado!  (hã? como assim?) Como não tínhamos outra opção reservamos então para quarta e ganhamos (ou perdemos, não sei bem) mais um dia em Kupang.

A agência da van tinha reservado quartos no hotel deles pra gente, mas quando chegamos não tivemos coragem de ficar e fomos para outro, procurando pelo que mais nos atraía na cidade: um KFC. E nos deliciamos com um autêntico frango frito (é isso que dá ficar algum tempo em Timor... rsrsrs).